quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

MALDITA ERVILHA QUE FOGE DO GARFO! (SIC)

Maldita ervilha que foge do garfo!
Epopeicamente foge do garfo
Ulisses de todos os vegetais
Aerodinâmico contingente de astúcia!
Escorrega, resvala na borda do prato
Entra em órbita
Infame galáxia de ferro e fósforo
Arauto verde do caos
Valhei-me, Mendel!
Não há lei que a impeça!
Diabólica esfera hiperativa
Cai no chão, incólume
Pequeno globo insolente!
Irônica redentora
A maior ervilha é menor que o menor dos garfos
E ainda assim ela triunfa, indómita
Lubricamente heróica
Inescrupulosa sacripanta!
Regozijante
Palatável transgressora
Ignora os espinhos frios do talher
Estalactites metálicas
Hastes virtuosas do moralismo banal
Inúteis pragmatas
Adeus prataria conformista!
Adeus alumínio, repressor intransponível!
Adeus destino inevitável de um trato intestinal!
Eis-me aqui no mundo e livre!
Como uma ervilha de alma deve ser!
Sou do chão, e não do prato!

Mas é surda e dura a sola de um sapato
.
.
.

Precipitação

Toda a minha vida é uma precipitação
Dissipo as intenções
Antecipo inconscientemente as atitudes
Iludido inconseqüente
Sei de tudo antes de saber
Até minha morte eu acho que prevejo
Embora o faça várias vezes

Precipitado
É a minha condição
Um vagalhão de sensações num mar de improbabilidade
Precipitar-me é trair-me
Sem qualquer indício
Nem qualquer maldade
É jogar-me a mim mesmo do meu próprio precipício:
O desejo