Vejo estrelas

Vejo estrelas o tempo todo
Não aquelas que estão no céu
Nem as da televisão
Vejo estrelas do meu lado
Por todos os lados
Até quando não quero
Vejo-as de perto
Às vezes tão de perto
Que posso quase tocá-las com a mão
Consigo vê-las até de olhos fechados
Porque as vejo com o pensamento
E principalmente
Com o coração


Cinco estrelas fazem uma constelação.

Sou um terrorista
Carrego uma bomba no peito
E uma maior na cabeça
Escondida bem embaixo
do turbante
Não há detonador
A explosão é acionada
Quando é detectada
A presença de qualquer coisa
importante

Não há alvo designado
É pela auto-destruição que me esforço

Quem chega perto
Decerto
Será atingido
pelos destroços

Meus heróis nunca morreram
Nem nunca nasceram
Porque nunca existiram
A não ser dentro de mim
Eles eram tudo que eu, quando criança, queria ter sido
Maldita hora
Daria tudo agora
Pra não ter crescido.

Te ver faz de mim
Semi-analfabeto
E o único verbo que sei conjugar
Só aceita "você"
Como objeto direto

Porque na minha língua
Toda oração é subordinada
ao coração

O pessimista saiu
Em busca do caminho das pedras

Achou o caminho
E comemorou
Sozinho
Mas percebeu que não poderia percorrê-lo
Deu um passo em falso:
Sentiu-se idiota até o último fio de cabelo
Por ter saído de casa
Descalço

Perdido

Perdido.
É assim que eu fico
Quando estou do seu lado
Mas não estou contigo

Em vez de ser sincero,
Me desespero
E acabo dizendo e fazendo
Exatamente o contrário
Do que eu quero

O primeiro pai artificial de um bebê de proveta adotado
Não foi nem cogitado
Como tutor do espírito pobre e sujo
Cujo destino
Desde nascido
Era ser
Abandonado

Nada deram ou ensinaram ou proibíram
E assim foi crescendo
Sozinho se subdesenvolvendo
Sem vontade
Sem maldade
E sem querer
querendo

Mal-me-quer
Bem-me-quer
Queira-me como quiser
Se não sabe agora
Queira quando souber
Ou não queira, se for o caso
Melhor não querer sabendo
Que querer por acaso
Melhor pra você, com certeza
Porque pra mim o que vale
É que a verdade não cale
A não ser que ela embale
A tristeza
Será que é melhor uma verdadeira decepção
Que uma doce ilusão?
Não importa
Fala o que sente
Caso sinta
Se não sentir, tudo bem
Só não minta
Mas lembre que eu sou sentimental
Então não leve a mal
Se eu não conseguir
Te dar tchau

As folhas caem
Como se fosse Outono
Sobre teu véu
Sobre tua coroa
Sobre teu trono
Sob teu olhar
Até eu caio
De joelhos
E me curvo solenemente
À sua nobreza
Senhoras e senhores,
Sua majestade,
A rainha da beleza
Não é só essa figura
Que você conhece do espelho
Essa você sabe que é linda
Mas o que é lindo mesmo
É o seu lado inocente
Que você tem sim
E nem sente
É desse seu lado
E de todos os outros
Que eu me sinto bem
Desse lado
Nunca fico triste
Não por causa da beleza de fora
Mas também pela beleza de dentro
Mas tão de dentro
Que nem você sabe
Que existe

Você já foi feliz
Mas esqueceu
Quando deixou de ser humano
e cresceu
Então como é que pode
Você querer ser feliz
Se a felicidade não é
Sequer uma lembrança?
Se você nem sabe
Que não quer crescer
Que o que te incomoda de verdade
É uma eterna vontade
Não de ter o que quis
Mas de voltar a ser feliz
De voltar a ser
criança

Morri quando te vi
E, dentro de mim, nasceu outra pessoa
E a primeira coisa que ela aprendeu a falar foi "eu te amo"
Mas a primeira coisa que ela ouviu foi "foda-se"

Dia de caça

Caçador indeciso
Nunca sei onde piso
Um passo em falso engatilha
Minha própria armadilha

Fico preso feito bicho
Roendo o próprio osso
Nada como o desespero
De uma corda no pescoço

Estou sempre à espreita
Mas nunca dou o bote
Só conto com a comida
Se contar com a sorte

Caçador impreciso
Completamente atrapalhado
Me distraio num riso
E eu é que acabo caçado