quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Corre Queiro

Eu quero o óbvio
Eu quero o igual
Eu quero ser um best seller do Paulo Coelho
Sobre as novelas do Manoel Carlos
Quero ser pseudo-intelectual
Quero comida natural de marca
Sem gordura
Sem açúcar
Sem graça
Quero rir da praça
E chorar do jornal
Quero um filme que eu entenda
E uma música que eu conheça
Nada que dê dor de cabeça
Nem nada que doa
Quero estar na boa
Com a etiqueta
Quero dar gorjeta
E ser abençoado
Quero tudo assim
Nada assado
Bem mastigado
Quero ser explorado
Pra ser digno de mim
Quero um delivery de ideais
Ser pro mundo nada mais
Que um filhote de pinguim





sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Humus Sapiens

Saiu da terra
Minhoca do mundo
Tem sempre dois lados
para tudo

Corria deitado
Caindo de pé
Estava indo de frente
ou de ré?

O corpo sem perna
Evita o tropeço
O lado certo é o mesmo
do avesso

Mas não se vê boca
Quando a fome ataca
Fica com as duas caras
de babaca





quarta-feira, 15 de julho de 2009

A calha

A calha recolhe a água da chuva.
Toda chuva que cai, a calha recolhe.

A calha molhada.
A água encalhada.

Às vezes o vento chacoalha.
E se chove na calha
E a calha escangalha,
Quem passa se molha
Na chuva de falha.

Alguém passou embaixo da calha
Ninguém se lembra, mas naquele dia choveu
Choveu como não chove dia nenhum
E atrapalhado entre idéias e tralhas
Afogou-se na falha
O homem comum

sábado, 27 de junho de 2009

O clímax da celebração
O espetáculo cruel
É o errante no chão
É o perfeito no céu

Falsa adoração

Emerge a vaidade
De causar mais rebuliço
Que o corpo da celebridade

A morte é a melhor propaganda

Quem se aceita um mito
Não esboça um grito
Olha para frente
Mas é pra trás que anda

E agora o mundo finge que chora
E sai dançando
E dando entrevista

Disputando quem é que mais sente
A morte recente
De mais um artista

Mas isso não dura
É a certeza que se tem
O luto forçado
É sempre desviado
Se morre mais alguém

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Cá estou eu em meu lugar, o mundo
Passo o tempo vendo o tempo passar
Conto as horas, os minutos, os segundos
O tempo todo, a ver e a contar

Não perco tempo
Não me atrapalho
No meu trabalho
De registrar

Não tenho medo
De não ter tempo
Pois tenho o tempo
Que o tempo dá

Há tanto tempo
Que conto o tempo
Que não dá tempo
De lamentar

Só continuo
Contando o tempo
Enquanto há tempo
Pra se contar

Eu conto o tempo, não faço planos
Não tenho folga dessa minha sina
Eu, estapafúrdico arauto de Cronos
Tornei-me escravo da minha rotina

domingo, 14 de junho de 2009

Ressaca

Quis abrir o olho
Não dava

Quis sair da cama
Não pude

Quis dizer bom-dia
Não disse

Levanto com a cabeça
Funda na certeza:
Beber demais é tolice

domingo, 17 de maio de 2009

Pedra filosofal

Tudo é surreal
Até que se prove o contrário

Tudo é só real
Enquanto dura o seu salário

Tudo é cereal
Na comida do canário

Ah, tudo é ordinário
E fica insignificante
Se há uma pedra irritante
No seu sistema urinário
.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Galope falso

O mundo é um carrossel
E os cavalos somos nós
Subindo e descendo a rodar
Numa roleta maldita
Uma prisão circular

Não há tempo para nada
Só para se arrepender
A cada volta que é vivida
O resto é só pesar
Da cavalgada fingida

E a ilusão de galope
Que move parques de acaso
Nada mais é que uma escara
A vida é a mentira que roda
A morte, a verdade que pára